Reorganize com Priscila Sabóia, Personal Organizer — Formação de personal organizers

Mães, não surtem…

Gente, sei que o tema do blog é organização. Você pode até me perguntar o que um texto sobre mamães que estão surtando com os bebês tem à ver com isso. mas eu te digo: TUDO! Não tenho filhos ainda mas sempre analisei muito a relação das mães com seus filhos, até porque trabalho com isso. Quando vou organizar uma casa, a minha observação em relação ao assunto faz toda diferença se o trabalho de organização vai perdurar ou não. Por isso a análise tão profunda sobre o assunto. Tenho estudado bastante sobre o método montessoriano, já que muitas mamães tem escolhido aplicar o método nos quartinhos desde que o bebê nasce. E tenho me apaixonado pelo assunto como um todo…

Ao mesmo tempo, esse ano foi um ano que, em um dos meus treinamentos de desenvolvimento pessoal (que vocês já devem ter percebido que eu adoro fazer um treinamento desses) eu descobri que tinha medo de ser mãe. E usava minha carreira em ascensão como desculpa. Casei há 8 anos e sempre falava: “Daqui há 2 anos teremos filhos”. Enfim, passaram-se 8 e nada. Nunca me culpei, mas esse ano eu percebi que estava usando a carreira pra jogar pra frente o sonho de ser mãe. Cada vez me sinto mais preparada e, esse ano também, eu escutei um frase de uma aluna que disse: “Eu tive filho muito cedo, assim que casei. Por um lado achei muito bom. Não tive chance de escolher quando ia ter filho. Se eu tivesse a chance de escolher como vocês tem hoje em dia, não sei o que seria de mim”.

Cara, aquilo bateu como uma flexa. Ela falou por acaso, mas parece que foi pra mim. Então veio o nascimento da minha sobrinha, Marina. A coisa mais rica da nossa vida nos últimos meses. Provando pra todo mundo que uma nova vida traz sempre coisa boas. Conclusão: 2017 será um ano de planos mais concretos sobre filhos… vou contando pra vocês.

Mas, na verdade não estou aqui pra falar de mim, e sim de vocês, vocês que já são mães. Li esse texto abaixo (então PREPARA que vem textão) e achei MARAVILHOSO!! Maravilhoso porque me tocou de uma maneira que nunca tinha tocado: o “não sentir culpa de ser mãe, trabalhadora, blogger, etc…” Um texto sobre a maternidade POSSÍVEL!

Então é claro, não podia deixar de compartilhar com vocês.

O texto é da página @quartinhodadany e eu reproduzi ele aqui pra vocês. Leiam, aproveitem e reflitam. 

Um beijo grande da Pri!

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Sanidade materna

Ando preocupada com a sanidade materna. Eu entro nos grupos e, num primeiro minuto, já consigo perceber o tanto de mãe exausta à beira da loucura. Exaustão por passar o dia catando brinquedos o dia todo. Um dos princípios do método montessoriano é a organização do espaço. Uma culpa avassaladora por não conseguir pagar uma escola montessoriana, que custa, no Brasil, por volta de mil reais. Um medo enorme de não colocar o colchão da criança no chão porque, segundo Montessori, TEM QUE ser no chão. Até se você fizer cama compartilhada. Na casa, tem lacraia. A criança precisa ter autonomia. É bom ter um cantinho na sala preparado para a criança com brinquedinho na estante, tapete pra ioga e mesinha (de material natural, por favor). Tudo precisa estar ao alcance da criança. Só que não há espaço em casa pra isso. O banheiro tem que estar adaptado ou o desfralde não vai ser tranquilo: banco, redutor de vaso, estante baixa pra ter tudo ao alcance das mãos. Na cozinha, torre de aprendizagem, mesa baixa, armário baixo com lanchinhos pra favorecer a autonomia e geladeira com comidinhas na porta pra criança conseguir se alimentar sozinha. Ganhar brinquedo de plástico de parente? Não pode. Por que os parentes existem? Eles atrapalham o método perfeito cheio de elementos naturais. Não pode tapete de EVA nem adesivo na parede. Tudo muito colorido. Atrapalha a concentração. Tem que amamentar pra sempre. Até a criança não querer mais e você se sentir péssima, cansada, enjoada, mas disfarçar através de compartilhamento de posts sobre “como amamentar pra sempre faz bem”. E tem que abraçar na hora da birra. Você não pode ter seus sentimentos. Tudo é voltado pra criança. Só ela importa. Você, não. Se usar chupeta ou mamadeira, você é um monstro sem coração que OPTOU por prejudicar a dentição e a respiração do próprio filho. Momento drama: e vai ter que lidar com o trauma do “deschupetamento”. TV? Nunca! Nunca, nunquinha. Invente mil brincadeiras, cozinhe tudo natural, amamente pra sempre, TV desligada, sem chupeta, ambiente organizado e preparado pra criança, não se descontrole, mantenha a calma, dê autonomia pra tudo. E limpe tudo sozinha depois. E fique exausta. E odeie a maternidade. E finja que nada disso tá acontecendo. E poste muitas fofuras no Facebook pra esconder a mãe infeliz que está por trás daquela criança feliz.

Eu não quero métodos que me aprisionam. Educar para a paz e para a liberdade não é seguir uma bíblia com sim’s e não’s. Ter paz e liberdade é fazer o que é possível pra não enlouquecer pra que seus filhos tenham, de fato, uma mãe feliz. Infelizmente, a responsabilidade pelos filhos acaba caindo nas costas da mãe. Por mais participativo que o pai seja, não vejo pais em grupos, páginas, discutindo com os amigos sobre cocôs, vômitos e atividades montessori. Vejo mães preocupando-se com tudo, sozinhas, cansadas. A solidão, a culpa e a busca pela perfeição invadem as casas de tal forma que mulheres-mães estão adoecendo por conta dessa cobrança, por causa de métodos inflexíveis e teorias inalcançáveis.

Eu faço o que posso fazer. Amamentei até 2 anos e eu decidi desmamar. Conduzi o desmame respeitando o meu filho, dando amor e, sobretudo, respeitando os meus limites. Cozinho muito, todo dia, toda hora. Mas, às sextas, canso. Peço pizza. Sim, eu tenho direito de jogar tudo pro alto depois de uma semana cansativa. E você também tem. Tem muita brincadeira, mas também teve TV depois de 2 anos porque eu preciso limpar a casa, fazer comida, tomar um café sossegada. Meus filhos sempre tiveram autonomia em casa. Eles sabem que a casa é deles e tudo aqui é nosso. Dormem em beliche. E tudo bem. É tanta autonomia que o pequeno sobe lá na cama de cima e sabe descer sozinho, rs. Fazer o quê? Ajudar. Ensinar. Comprei o redutor pra vaso. Quem disse que ele quis? Não quis. Nunca usou. Joguei dinheiro no lixo. Senta sozinho no vaso segurando com as próprias mãos. Desfraldou do nada, do dia pra noite. Chupou chupeta com os limites que estabeleci. Um dia a chupeta sumiu de verdade. Avisei que a chupeta tinha sumido. Ficou triste na hora, mas passou. Aceitou melhor que eu. Vai ter dentes tortos? Não sei. Não gostaria que tivesse, mas, se tiver, terei certeza de que fiz o que pude. Preferi que ele tivesse chupeta nos momentos da soneca ao invés de uma mãe enlouquecida. Só aceitei o BLW porque ele não aceitava colher. Suja tudo. Eu sou sozinha aqui durante o dia. Tenho outro filho que chega da escola com fome e precisa de comida no prato. Horrível ter um bebê todo melecado, o chão da sala imundo e outro filho chegando da escola com fome e eu sem saber por onde começar. Temos brinquedos de todos os materiais: naturais e plásticos. Todo presente é bem vindo e, mais importante que brincar com brinquedo de fibra natural, é valorizar um presente dado carinhosamente por alguém que os ama. Meu filho estuda numa escola tradicional, católica, porque é a que cabe no meu bolso, é perto de casa. Não vou submetê-lo ao trânsito caótico da minha cidade pra ter uma educação “diferentona”. Se estou satisfeita com a escola? Não, mas foi o possível. O critério é: tem que ser perto e caber no meu bolso. Prefiro a minha maternidade possível à maternidade idealizada e triste. Meus filhos são importantes, mas eu também sou. Preciso estar saudável pra cuidar deles. Prefiro a honestidade de não seguir nenhum método à risca ao adoecimento causado por “regras” impossíveis.

Mulher, você é maravilhosa. Permita-se não enlouquecer. Permita-se não cair em depressão. Permita-se ser feliz e aproveitar a maternidade enquanto seus filhos estão pequenos. O tempo voa. Quando você menos esperar, eles estarão grandes e não vão mais querer segurar sua mão pra atravessar a rua. Ao invés de catar brinquedo o dia todo, beije seus filhos e refresque sua cabeça tomando um café quentinho olhando pro céu. Ao invés de morrer de culpa, viva a maternidade como você pode, dentro das suas possibilidades. Você não deve explicação a ninguém. Ao invés de seguir qualquer método ou teoria à risca, saiba que tudo precisa ser flexível pra que a gente não perca o pouco de sanidade que nos resta. A vida já é tão cheia de obstáculos… Por que se preocupar com um tapete colorido demais? Eu juro que isso não vai fazer do seu filho uma pessoa menos concentrada. Brinque, beije a barriguinha deles, sinta muito o cheirinho do sovaquinho, “morda” os pezinhos de pãozinho. Nenhuma teoria vai fazer o seu filho mais feliz, mais independente, mais esperto, mais concentrado, mais livre. Não torne a sua maternidade o produto de uma bíblia imutável. Esqueça esse combo que você comprou sem nem ter ideia de que ele tornaria seus dias verdadeiros pesadelos de onde você não consegue fugir. Seu filho só vai aprender a ter autonomia se você tiver. Tome as rédeas! Nenhum grupo de Facebook conhece sua realidade, suas necessidades e seus limites. Criança reflete o que vive. Seja feliz.

Imagem: foto minha, da minha estante. Enquanto eu escrevo, o que é um hobby que amo, ele bagunça tudo. E eu não vou arrumar. Daqui a pouco vou pedir pizza de quatro queijos. Tô vivendo. Vivam também. Sobreviver não é suficiente.

Obs.: Não estou defendendo chupeta, mamadeira, indústria alimentícia, brinquedo de plástico ou TV. Estou defendendo a sanidade materna.